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Neste Bicentenário da Independência, uma personagem histórica merece ser lembrada por seu papel fundamental no processo de emancipação política do país das amarras coloniais de Portugal e na constituição de um novo império. D. Maria Leopoldina, a imperatriz do Brasil, é reconhecida como coautora da Independência, uma mulher com liderança de estadista.
Muitos foram os seus legados. Com Leopoldina, veio ao Brasil a primeira missão de artistas e cientistas, formada por naturalistas, desenhistas e pintores, iniciando por aqui os estudos e a divulgação das ciências naturais. Enquanto imperatriz, procurou formas de acabar com o trabalho escravo e, propagando uma boa imagem do país no exterior, incentivou a imigração de mão-de-obra europeia. Na bandeira brasileira, a cor amarela representa sua origem, a Casa dos Habsburgo.
Origem austríaca
Nascida em 1797 na cidade de Viena, centro do império austríaco , Maria Leopoldina Carolina Josefa de Habsburgo-Lorena era filha do imperador Francisco I e sua esposa, Maria Teresa, do Reino das Duas Sicílias. Era uma adolescente educada conforme os princípios reais, poliglota, com conhecimento sobre culturas do mundo. Tocava piano (era amiga do compositor Schubert), amava as ciências naturais, e escrevia cartas sobre muitos assuntos. Inteligente e culta, Leopoldina deveria ser uma perfeita conselheira a qualquer soberano afim de estabelecer laços com o império austríaco.
O casamento entre D. Maria Leopoldina e D. Pedro de Alcântara ocorreu por procuração, em 13 de maio de 1817, quando o Rio de Janeiro ainda era o centro político do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. O primeiro encontro do casal ocorreu cinco meses após, com grande pompa real, em terras brasileiras.
A estadista da Independência
A Revolução do Porto em 1820 obrigou a volta de D. João VI para Portugal, e D. Pedro ficou no Brasil como príncipe-regente. Diante da turbulência política, ele dividia suas dúvidas com Leopoldina, que passou a ser presente no dia a dia político do marido, muitas vezes substituindo-o nas decisões da Corte.
Despachos de Portugal, que chegaram ao Rio de Janeiro no final de 1821, exigiam o retorno de D. Pedro para Lisboa. Enquanto o príncipe preocupava-se com a herança do trono, D. Leopoldina percebia que Portugal estava perdendo sua colônia. Ela então arquitetou contatos com os patriotas brasileiros que conspiravam pela independência.
Sob pressão, e convencido por D. Leopoldina de que sua partida provocaria a fragmentação do Brasil, D. Pedro decidiu permanecer, rejeitando a convocação de Portugal, o que ficou conhecido como “Dia do Fico”.
A colônia, contudo, ainda estava prestes a ruir, e a Bahia já tinha declarado independência de Portugal. Impelido a se deslocar para São Paulo para conter problemas políticos naquela província, D. Pedro deixou a regência interina a cargo de D. Leopoldina. Em 2 de setembro de 1822, ela presidiu o Conselho de Estado do Brasil, que decidiu pela recomendação de se proclamar a independência.
Duas cartas foram imediatamente escritas para D. Pedro: uma por José Bonifácio de Andrade e Silva e outra por Leopoldina, reforçando a decisão do Conselho. As mensagens chegaram ao príncipe no dia 7 de setembro de 1822, às margens do Rio Ipiranga.
Apesar do intenso capítulo da Independência, o reinado de Maria Leopoldina foi curto, de apenas quatro anos. A imperatriz sofria humilhações públicas do marido, sobretudo pela notória traição com Domitila de Castro Canto e Melo, a Marquesa de Santos. D. Leopoldina faleceu em dezembro de 1826, deixando sete filhos, entre os quais dois monarcas, Maria II, de Portugal, e D. Pedro II, do Brasil.
Fontes:
REZZUTTI, Paulo. D. Leopoldina : a história não contada : a mulher que arquitetou a Independência do Brasil / Paulo Rezzutti ; A primeira imperatriz do Novo Mundo por Viviane Tessitore ; Frühbeck e a redescoberta do Brasil por Claudia Witte. – Rio de Janeiro : LeYa, 2017.
VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Imperial (1822-1889). Editora Objetiva. 2009