Quando o ChatGPT surgiu, em novembro de 2022, ficou claro que a IA promoveria uma revolução comparável à disseminação da internet na década de 1980. Ou ainda maior. O nome ChatGPT mistura "chat", de chatbot (robôs de atendimento ao consumidor), e "GPT", de Generative Pre-trained Transformer, sistema digital que gera informações a partir de um banco de dados imenso, que apenas máquinas são capazes de processar.
O termo “Inteligência Artificial” surgiu em 1956, mas o ChatGPT popularizou as IAs generativas multimodais - aquelas que podem interpretar imagem, texto e som, produzindo também conteúdo nesses diversos formatos. Ao mesmo tempo, fomentou debates sobre o uso ético dessas tecnologias. O fato é que a inteligência artificial veio para ficar. Aliás, já está em nosso dia a dia em múltiplas funções, como no reconhecimento facial, nos algoritmos das redes sociais, nas suas playlists favoritas e muitas outras.
No campo da Educação, cada vez mais estudos indicam o potencial de transformação que a IA pode trazer. Instituições de ensino e governos já utilizam essa tecnologia em sistemas de gestão escolar e análise de dados. Mas como ela pode apoiar diretamente o trabalho de educadores e gestores? Uma recente pesquisa da consultoria McKinsey com 2.000 professores de EUA, Canadá, Cingapura e Reino Unido indica que 20 a 40% das tarefas dos professores – cerca de 13 horas semanais – poderiam ser automatizadas com tecnologias já disponíveis.
A preparação de aulas, apontada como a área com maior potencial para automação, consome em média 11 horas semanais dos docentes, mas a tecnologia poderia reduzir essa carga para seis horas. Além disso, o tempo dedicado a atividades administrativas, que atualmente é de cerca de cinco horas por semana, poderia ser diminuído para três, permitindo que os professores se concentrem mais nas tarefas pedagógicas. Apesar de a pesquisa ser focada em outros países e no ensino superior, serve como referência sobre o imenso potencial inovador do uso dessas ferramentas no contexto educacional.
Sistemas inteligentes e inclusão
Além de otimização de tempo e de recursos, a grande revolução da IA na educação está na possibilidade de mapeamento e compreensão do processo de aprendizado dos alunos. Ao analisar dados educacionais, pode-se identificar padrões e tendências que revelam como fatores sociais e econômicos influenciam o desempenho de cada estudante. Com essa análise, é possível criar ambientes de aprendizado mais inclusivos e adaptados às necessidades individuais.
Através da mineração de dados, ferramentas de IA também podem analisar desempenho, engajamento e outras métricas relevantes para identificar os alunos que precisam de mais suporte ou para monitorar o progresso de diferentes turmas em relação a um conteúdo.
Desafios da Inteligência Artificial na Educação
A integração da inteligência artificial na educação traz benefícios significativos, mas também exige uma abordagem estratégica e cautelosa. Um dos principais desafios é a capacitação docente: os professores precisam ser treinados para usar as ferramentas de IA de maneira ética e eficaz. Programas de formação contínua e workshops especializados podem desempenhar um papel fundamental, proporcionando aos educadores as competências necessárias para engajar os estudantes e aprimorar suas práticas pedagógicas.
A ética também é uma preocupação central na adoção da IA. A coleta e o uso de dados dos alunos requerem rigor na proteção da privacidade e da segurança. Garantir a transparência dessas ferramentas e a utilização responsável dos dados é essencial, assim como evitar a dependência excessiva da tecnologia. Preservar o papel fundamental do professor é indispensável para manter as relações interpessoais e o valor da aprendizagem colaborativa. O equilíbrio entre tecnologia e pedagogia é essencial para que a Inteligência Artificial seja uma ferramenta a serviço da educação, e não um fim em si mesma.
Educação básica e IA: construindo competências para o amanhã
Mas como os estudantes estão sendo impactados pelas possibilidades trazidas pela Inteligência artificial? Essa questão é crucial e vai muito além do uso do ChatGPT para fazer o dever de casa. Pedagogicamente, é fundamental discutir o uso ético e responsável dessas ferramentas, mas também olhar para o impacto delas na construção da sociedade e no futuro do trabalho.
De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a inteligência artificial tem potencial para impactar cerca de 60% dos empregos nas economias desenvolvidas e 40% das ocupações globalmente nos próximos dois anos. Essa rápida transformação exige ações urgentes para capacitar a população para adaptar-se a essa nova realidade.
Países que se prepararem adequadamente poderão desfrutar de ganhos em produtividade, enquanto a falta de preparação pode agravar a desinformação e as desigualdades sociais. Por conta disso, diversas nações têm introduzido a IA no ensino básico. No Brasil, por exemplo, o estado do Piauí vem capacitando professores e inserindo conteúdos de IA no currículo escolar, buscando alinhar a educação às demandas tecnológicas emergentes.
A recente publicação Inteligência artificial na educação básica: novas aplicações e tendências para o futuro, do Centro de Inovação para a Educação Brasileira (CIEB) traz dados atualizados sobre o tema e sobre a implementação de ações no Brasil e no Mundo.
Multirio desenvolve plataforma interativa dedicada à IA na Educação
Com base nesses desafios e oportunidades, a MultiRio desenvolverá nos próximos dois anos um projeto experimental para auxiliar os educadores na utilização da inteligência artificial no cotidiano escolar.
O projeto se chama Aí.Prof! e foi selecionado no edital Inteligência Artificial para Educação da Fundação Itaú.
O que fazer e o que evitar ao usar IA generatíva
Para os professores: A IA pode ser uma ótima aliada na criação de planos de aula, na busca de fontes e materiais de apoio, além de revisão de textos, produção de matérias gráficos e mais.
Para os gestores: Ferramentas de IA também ajudam na organização de tarefas administrativas, como relatórios financeiros e acadêmicos, otimizando o tempo.
Cuidado com dados sensíveis: É essencial proteger informações confidenciais que possam aparecer nos resultados gerados pela IA. Esses dados não devem ser utilizados ou compartilhados.
Evite plágio: Conteúdos gerados com o auxílio de IA precisam ser originais, respeitando os direitos autorais e evitando cópias diretas.
PROMPT: a chave para o sucesso no uso de Inteligência Artificial
Uma dica fundamental para utilizar as IAs generativas é caprichar no prompt, ou seja, o comando que você dá à máquina para obter um determinado resultado. Você deve sempre contextualizar seu pedido e incluir o máximo de informações extras para direcionar seu resultado.
Por exemplo, em vez de: “Monte um plano de aula de 50 minutos sobre lógica de programação para uma aula desplugada do Ensino Fundamental Anos Finais”, um prompt que traria uma resposta mais assertiva seria: “Monte um plano de aula de 50 minutos sobre lógica de programação para uma aula desplugada do Ensino Fundamental Anos Finais. Considere que é uma turma de 20 alunos de [insira a faixa etária] com perfis diversos. O objetivo da aula é ensinar conceitos básicos de algoritmos e lógica sequencial de forma lúdica e acessível, desenvolvendo habilidades de pensamento lógico e resolução de problemas. Crie atividades interativas, como exercícios com papel, objetos ou jogos de grupo, que possam ser diferenciadas para acomodar diferentes níveis de conhecimento e interesses entre os alunos.”
É importante lembrar que a IA ainda está em desenvolvimento e pode trazer respostas com vieses, preconceitos ou até erros. Assim, os resultados devem ser sempre revisados criticamente.
Outras plataformas de IA para usar na educação
Além do ChatGPT, uma série de plataformas que utilizam tecnologia de IA podem ser usadas no cotidiano escolar.
Veja também:
Fontes:
- Observatório de Educação
- CENTRO DE INOVAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO BRASILEIRA. CIEB: Notas Técnicas #21 Inteligência artificial na educação básica: novas aplicações e tendências para o futuro. São Paulo: CIEB, 2024. E-book em PDF.
- Porvir