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Por que o clima do Rio anda tão estranho?
23 Janeiro 2023 | Por Márcia Pimentel
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Massas de ar sobre as regiões Sudeste e Sul. Imagem de satélite. CIRA/CSU


Não são poucos os cariocas que usaram blusa de manga comprida em pleno mês de janeiro. Para quem gosta de um clima mais ameno, a alegria não durou muito, pois poucos dias depois do “friozinho”, o calor forte tomou conta da cidade. A sensação térmica tem ultrapassado a casa dos 50º C em vários bairros dos Rio.

A primavera do Rio em 2022 também foi atípica. Em vez de dias ensolarados e quentes, entrecortados por pancadas esparsas, o que se viu foram chuvas contínuas e temperaturas amenas. O que está acontecendo?

Segundo o site do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC), a desregulação do clima tem sido a regra das grandes cidades do planeta. A imprevisibilidade do tempo e os eventos extremos, como o aumento das atividades ciclônicas e as grandes inundações ou secas, têm sido cada vez mais frequentes. Isso é resultado, sobretudo, da substituição da vegetação nativa por concreto e asfalto. Some-se a isso os gases de efeito estufa provocados, principalmente, pela queima de combustíveis fósseis.

Oceanos e sensação térmica

A formação de ilhas de calor faz parte do pacote das mudanças climáticas. E o encontro do ar muito quente com uma frente fria pode provocar chuvas intensas. Segundo a meteorologista-chefe do Centro de Operações Rio (COR), Raquel Franco, a baixa temperatura e as chuvas da primeira quinzena de janeiro foram provocadas pelo encontro de uma massa fria oceânica com o ar quente e úmido da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS).

Imagem de satélite mostra a massa de ar conhecida como ZCAS, que nasce na Amazônia e toma a direção Sudeste em direção ao Atlântico. Nasa


Para quem ainda não sabe, a ZCAS é uma faixa de nebulosidade formada na Região Amazônica. Ela é criada porque a densa floresta equatorial suga a umidade do Oceano Atlântico, ocasionando chuvas não só naquela área, mas em vários outros lugares do país.

Isso porque as precipitações que lá ocorrem se evaporam com o calor, devolvendo a umidade à atmosfera. Este vapor não se dissipa em todas as direções, pois, ao se deparar com o paredão da Cordilheira dos Andes, toma a direção da região Sudeste. Essa corrente de ar super úmida, que caminha da Floresta Amazônica em direção ao oceano, também é conhecido como rio voador.

A meteorologista do COR explica que a chuva ocasionada somente pela ZCAS é a que costuma ser típica dos verões cariocas, causando aquela sensação de abafamento térmico e de temperatura maior do que a registrada pelos termômetros.

Em 2023, o calorão pode mesmo se instalar no Rio de Janeiro. É que estamos, há 3 anos, sob a influência de La Niña, fenômeno climático que se inicia com o resfriamento das águas superficiais do Oceano Pacífico e que traz consequências ao regime de circulação dos ventos na nossa atmosfera. Entre seus efeitos, a queda das temperaturas.

Cor azul escuro mostra a temperatura fria das águas do Pacífico, responsável pelo fenômeno de La Niña. Nasa


Segundo os meteorologistas do site Metsul, ainda não se sabe exatamente quando o fenômeno de La Niña vai terminar. Muito menos, se a temperatura oceânica do Pacífico vai caminhar para um regime de neutralidade ou se vai evoluir para El Niño (quando as águas se aquecem além do normal).

O fato é que o monitoramento do Pacífico tem indicado um aumento na temperatura de suas águas. Grande parte das apostas é de que o oceano caminha para um regime de neutralidade. Como se não bastassem as mudanças climáticas, se esta hipótese for confirmada, os meteorologistas são unânimes em dizer que a imprevisibilidade do clima será ainda maior.

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