Conhecido como “o Pardo do Recife”, Pedro da Silva Pedroso foi um personagem de destaque durante a Revolução Pernambucana de 1817como capitão e comandante da artilharia. Pouco lembrado pela historiografia, era conhecido por suas ações intempestivas do mesmo espírito dos radicais da Revolução Francesa, o que o levou a ser também mencionado como "Robespierre Pernambucano", pelos arbitrários fuzilamentos que ordenou contra opositores, e pelas ameaças contra membros do próprio governo provisório que integrava.
Apesar dos arremedos de terror, Pedroso cultivava a simpatia de pretos e pardos, possuindo capacidade de arregimentar para suas tropas estes que considerava "sua gente". A Revolução Pernambucana contou com expressiva participação popular e vigorou por 70 dias, instaurando na província a primeira República no Brasil, defendendo liberdade de imprensa e credo, mas, embora aberta à igualdade racial e social, não era contra a escravidão.
A reação das tropas imperiais portuguesas contra a nova república que se formava no Nordeste foi violenta. Pedroso acabou preso e enviado ao exílio em Portugal, retornando em 1822 em liberdade, desta vez, contudo, em aderência à Corte Constitucional favorável a D. Pedro I. O novo governo imperial se formava e precisava se impor contra os separatistas.
A fonte de poder do Capitão Pedroso, por sua vez, era a população negra da província, mobilizada e manipulada por ele. Inspirado na Revolução do Haiti, percebendo tamanha desigualdade social, a consequente hostilidade da plebe negra contra os brancos, além do embranquecimento da elite mestiça, o Pardo do Recife convocou "os seus" e tomou a cidade com toda sorte de atentados, prisões e ameaças de fuzilamentos, provocando arruaças e conflitos. Tal insurreição ocorreu em fevereiro de 1823, sendo conhecida como "Pedrosada", um motim que envolvia o desejo de implantar um governo negro em Pernambuco.
Novamente preso, desta vez Pedroso foi remetido à capital do Império, Rio de Janeiro, sendo libertado após submeter-se mais uma vez aos comandos de D. Pedro I, que o viu útil contra a Confederação do Equador, de 1824.
Ora revolucionário, ora chefe de forças militares a favor da monarquia, o “Pardo do Recife” chegou bem próximo da pena capital, mas livrou-se pela proximidade com a aristocracia imperial. Pelo temperamento radical e orgulhoso, chegou a pleitear ser ele o primeiro a exclamar o grito de independência, em 1817, antes mesmo de D. Pedro I às margens do Ipiranga. Sua "Pedrosada" não foi mero acidente histórico, mas um acontecimento que eclodiu quando questões raciais, identitárias, de cidadania, militares e políticas fervilhavam nas primeiras décadas do século XIX.
Fontes:
SILVA, Clércia Maria da. “Pedro da Silva Pedroso e a Pedrosada de 1823: descontentamento, insubordinação e motim.” XXIX Simpósio Nacional de História. ANPUH. 2019.
DE FRANÇA, Wanderson Édipo. "Pedro da Silva Pedroso: entre ser um déspota e desvairado ou um imortal e pai da Pátria". Revista Tempo Histórico. Vol. 5. Nº 1, 2013.
Agenda GERER, “O Bicentenário e as Independências. Intelectualidades, vozes e movimentos”. 2º Bimestre 2022.
SILVA, Luiz Geraldo Santos da. Negros Patriotas. raça e identidade social na formação do Estado Nação. (Pernambuco, 1770-1830). In: István Jancsó (organizador). Brasil: formação do Estado e da Nação. Estudos Históricos, 50. São Paulo: HUCITEC, Fapesp, 2003.