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Um santo soldado em defesa do Rio
19 Janeiro 2016 | Por Ivan Kasahara
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Quando Estácio de Sá fundou a cidade do Rio, em 1º de março de 1565, e a nomeou como São Sebastião do Rio de Janeiro, a homenagem era muito mais direcionada ao então rei de Portugal, D. Sebastião, do que ao santo. O monarca português, este sim, havia sido assim batizado por ter nascido em 20 de janeiro, mesmo dia em que se festeja a memória desse soldado do Império Romano que morreu como mártir.

Os registros históricos sobre a vida do padroeiro do Rio são escassos, sendo o principal o Depositio martyrum, a lista mais antiga de mártires da igreja católica, compilada no ano 354 e que já designava 20 de janeiro como dia de sua celebração. Há, também, um sermão de Santo Ambrósio, padre de Milão que viveu no século IV, a respeito de sua vida. No século V, o monge Arnobius escreveu um texto sobre a paixão de São Sebastião, mas essa não pode ser considerada uma fonte fidedigna.

Fiel soldado romano

De acordo com essas informações, Sebastião nasceu em Milão, por volta do ano 256, em uma família de recursos. Criado como cristão, mudou-se para Roma em 270, onde iniciou uma bem-sucedida carreira militar, alcançando um alto posto na guarda do imperador Diocleciano, notório por sua perseguição contra o cristianismo. Por isso, o soldado mantinha sua fé em segredo, mas aproveitava o cargo para ajudar cristãos encarcerados e converter outros militares.

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Quadro do pintor italiano Andrea Mantegna (c. 1431) interpreta o momento mais representativo da vida de São Sebastião

Quando o imperador descobriu sua religião, por volta de 288, ordenou que Sebastião fosse amarrado a um tronco e morto por flechadas. Segundo o culto pelo santo, essa situação, embora seja a imagem mais popularizada, não representou sua morte. Mesmo ferido e abandonado para morrer, o soldado teria sido resgatado por uma mulher e sobrevivido. Depois de recuperado, confrontou Diocleciano, assumindo sua fé e condenando a perseguição ao cristianismo.

Sentenciado novamente à morte, dessa vez por espancamento, Sebastião teve o corpo atirado no esgoto de Roma para que não fosse recuperado por seus correligionários. No entanto, o mártir teria aparecido em sonho para uma fiel, indicando o local onde o cadáver estava e pedindo-lhe que o enterrasse nas Catacumbas, cemitério cristão subterrâneo.

O culto a São Sebastião se tornou popular nos séculos seguintes, pois, até o século VI, as Catacumbas se localizavam sob a basílica então dedicada a São Pedro e a São Paulo, e os peregrinos atraídos por esses dois apóstolos aproveitavam para visitar seu túmulo. A fama se ampliou em 680, quando lhe foi atribuído o fim de uma praga que assolava Roma, e se manteve forte o suficiente para, em 1554, determinar o nome do herdeiro da Coroa portuguesa.

Aliado dos colonos portugueses

Associado à cidade desde a fundação, São Sebastião foi logo inserido definitivamente na história do Rio de Janeiro pelo imaginário dos primeiros habitantes. De acordo com alguns relatos, o santo teria aparecido durante a Batalha das Canoas, travada em julho de 1566, na qual os portugueses, em considerável desvantagem numérica, conseguiram resistir a uma investida dos índios tamoios.

Outros registros indicam que o auxílio divino teria vindo em 1567, na Batalha de Uruçumirim, ocorrida, coincidentemente, em 20 de janeiro. Nela, os portugueses derrotaram de forma definitiva os tamoios e os franceses remanescentes, que haviam instalado a França Antártica em terras cariocas. Durante o confronto, Estácio de Sá, fundador da cidade, foi atingido por uma flecha envenenada, mas, ao contrário do santo, não sobreviveu ao ferimento.

Por muitos anos houve, no Rio, a tradição de reencenar, a cada 20 de janeiro, a Batalha das Canoas nas águas da Baía de Guanabara, uma justa homenagem que se perdeu com o tempo. No entanto, seu dia continua a ser celebrado na cidade e, desde 2015, além de padroeiro, São Sebastião passou a ser considerado um dos 61 heróis e heroínas da Cidade Maravilhosa.

 
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