Um evento realizado pela Secretaria Municipal de Educação (SME), na quarta-feira (21/2), no Centro de Convenções Sul-América, reuniu cerca de 3.000 diretores, coordenadores pedagógicos e professores de Ciências da Rede para que eles e suas escolas se engajem no projeto que promete livrar o Rio de Janeiro da dengue, zika e chickungunya, em um prazo de três a cinco anos. Desenvolvido pelo World Mosquito Program (WPG) e executado, no Brasil, pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o projeto visa substituir a população de Aedes aegypt selvagem da cidade por uma outra portadora da bactéria Wolbachia, que bloqueia o desenvolvimento dos vírus causadores dessas doenças.
A Wolbachia, encontrada naturalmente em cerca de 60% dos insetos, é um microorganismo intracelular inofensivo aos seres humanos e demais animais vertebrados. A descoberta de que o mosquito portador dessa bactéria – apelidado de Wolbito – não transmite nem dengue, nem zika, nem chicungunya foi feita pela Universidade de Monash, na Austrália, onde o pesquisador da Fiocruz Luciano Moreira passava uma temporada. E como ficou constatado que a Wolbachia é transmitida pelas fêmeas do Aedes aos seus descendentes, os pesquisadores passaram a liberar Wolbitos na cidade de Townsville, no nordeste australiano, e obtiveram resultados excelentes no controle dos vetores.
O método, por ser seguro, é recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). O coordenador de Comunicação da Fiocruz, Guilherme Costa, fez questão de frisar que não há qualquer modificação genética na criação do Wolbito. “Por isso, o método não produz qualquer impacto ambiental. Trata-se apenas de um mosquito que nasce com a bactéria Wolbachia em suas células. O método é natural, seguro e autossustentável”, garantiu.
A liberação de Wolbitos no Rio de Janeiro pode ser feita de carro por técnicos da Fiocruz, ou a pé por agentes da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Mas qual seria a reação das pessoas ao verem servidores públicos soltando mosquitos nos lugares em que moram ou trabalham? “Por isso, é fundamental que a população compreenda essa nova tecnologia de combate aos vetores da dengue, zika e chicungunya”, explicou Elisabeth Alves, uma das coordenadoras do Programa Saúde na Escola Carioca.
Engajamento das escolas
“Temos que combinar a capacidade científica da Fiocruz com a nossa capilaridade e capacidade de trabalho. E cada um de vocês, das escolas, vai ser procurado para se engajar nessa jornada. Trata-se de uma grande campanha de divulgação científica”, afirmou o secretário municipal de Educação, César Benjamim, na abertura do evento. “É muito importante essa parceria. Vocês, da Educação, são a maior fonte de notificação da população”, ressaltou Guilherme Costa.
A Fiocruz contou com a participação das escolas da 11ª CRE na liberação de Wolbitos por dez bairros da Ilha do Governador, onde já circula a população de Aedes aegypt com a bactéria. O próximo passo do projeto é liberá-los em mais 14 bairros que pertencem à 3ª, a 4ª e a 5ª CREs: Bonsucesso, Brás de Pina, Complexo do Alemão, Manguinhos, Olaria, Penha, Penha Circular, Ramos, Colégio, Irajá, Vicente de Carvalho, Vila da Penha, Vila Kosmos e Vista Alegre.
Para implementar o processo de liberação, a Fiocruz conta com uma "fábrica" de mosquitos com capacidade de produzir três milhões de Wolbitos, semanalmente. Após serem soltos, eles são monitorados por meio de armadilhas instaladas em casas comerciais e residenciais de voluntários. “Os mosquitos capturados são recolhidos e analisados um a um. Utilizando uma técnica de biologia molecular, sabemos se portam, ou não, a Wolbachia. Todo o processo, desde a criação dos Wolbitos, passa por um controle muito rígido”, explicou Guilherme Costa aos participantes do evento.
Combate ao mosquito continua
Representantes da SME, da SMS e da Fiocruz fizeram questão de ressaltar que a liberação de Wolbitos não implica, em nenhuma hipótese, no relaxamento da campanha Aqui, Mosquito Não Se Cria, que vem sendo realizada pelas escolas há cerca de um ano. Os Aedes aegypit com Wolbachia continuarão causando incômodos, picando (afinal eles se alimentam de sangue) e provocando alergias cutâneas. “É fundamental entendermos que o novo método de controle da dengue, zika e chikungunya é uma ação que se soma ao controle da população de mosquitos”, frisou a coordenadora do Programa Saúde na Escola Carioca.